No seguimento do que vi em alguns blogs internacionais (nomeadamente no excelente Touca 14), vou iniciar uma série de entrevistas com alguns árbitros internacionais (ou nacionais de reconhecido mérito), com o objectivo de promover a carreira de árbitro e de incentivar os novos árbitros ou interessados na arbitragem, dando a conhecer a opinião de quem vive esta carreira com paixão.
Depois de ter enviado as questões aos nossos 6 árbitros internacionais (José Barradas, Paulo Ramos, Luís Santos, Raúl Vital, José Tomé e Luís Vital), aqui vos publico a entrevista do primeiro árbitro a aceder em partilhar o seu ponto de vista:
ENTREVISTA JOSÉ BARRADAS
- Como conheceu o pólo aquático? Foi jogador?
Após esse período, fui desafiado pelo Tó Bé, a ir para o CNA, onde se estava a construir uma equipa. Durante 5 anos conciliei a actividade de jogador com a arbitragem.
- Por que se decidiu tornar árbitro de pólo?
- Quais os requisitos e características que acha necessárias para ser um bom árbitro de pólo?
As características comportamentais e pessoais são fundamentais assim como a capacidade de julgar de uma forma equilibrada e justa.
O auto controlo e a capacidade de abstracção de toda a envolvente exterior são aspectos fundamentais a ter em linha de conta, para que o árbitro possa te uma actuação que, passe despercebida.
O árbitro não deve ser o centro das atenções, deve saber dosear a sua exposição. O árbitro faz parte do jogo e como tal deve ser considerado como um elemento fundamental do espectáculo desportivo.
Ser rigoroso não significa ser ditador, este deve cumprir e fazer cumprir as leis do jogo.
A imagem que o árbitro transmite para o exterior não deve ser confundida com protagonismo.
- Tendo em vista a necessidade de recrutar e formar novos árbitros, o que acha que pode ser feito nesse sentido?
- Qual foi o jogo mais importante que já apitou?
- Acha que alguma regra do pólo deveria ser mudada/incluída/excluída?
Todas as mudanças efectuadas até agora às regras , foram criteriosas em favor do desenvolvimento da modalidade e do gradual aumento da competitividade e do espectáculo desportivo. Como é lógico esta reflexão aplica-se a países que apresentam um potencial de desenvolvimento diferente de Portugal. O Pólo Português tem de crescer mais e estabelecer objectivos a longo prazo, fazendo apostas fortes nos escalões de formação para que no futuro possa competir ao mais alto nível.
- Algumas pessoas não vêem com bons olhos o facto de ser árbitro e estar ligado ao movimento associativo/federativo, como encara essas críticas?
A nossa modalidade tem uma história muito curta. O associativismo não está actualmente enraizado na nossa cultura fruto das mudanças sociais operadas na nossa sociedade. A juventude tem o seu tempo demasiadamente ocupado com a escola, com a musica e com o desporto, sobrando pouco tempo para o associativismo para o colectivismo, criando um défice de pessoas disponíveis para abraçar o dirigismo desportivo. Todos estes factores condicionantes fazem com que, no caso da nossa modalidade as pessoas acumulem cargos, o que de certo modo pode induzir numa certa promiscuidade. A alternância seria o mais normal em termos lógicos de jogador, árbitro e dirigente, não necessariamente por esta ordem, mas a realidade demonstra que a grande maioria dos atletas não segue o dirigismo desportivo. Como é evidente o ideal seria a separação de cargos evitando em muitos casos interpretações abusivas e pouco claras. Para nós árbitros é muito mais cómodo e interessante apenas arbitrar e julgar no jogo e não no dirigismo, evitando, conflitos e zonas cinzentas O ideal seria a separação das funções. Quanto às criticas em minha opinião, valem o que valem e aquilo que delas podemos retirar de positivo.
- O universo do pólo português é minúsculo, todos se conhecem, técnicos, atletas, árbitros, dirigentes e apoiantes. Como encara as reclamações durante os jogos, tendo, ao mesmo tempo, que manter a autoridade de árbitro?
Depende da postura que cada árbitro coloca no seu desempenho. Os árbitros devem ser rigorosos, cumprirem e fazerem cumprir os regulamentos, independentemente de quem estiver dentro de água. O árbitro deve estar preparado para conviver com diferentes grupos e interagir de forma, a que a sua actuação passe despercebida e consiga comunicar com o publico, atletas e treinadores. Um árbitro deve adoptar uma postura construtiva, um estilo agradável e ter um comportamento calmo e com certezas do que esta a fazer. O respeito mutuo entre os diferentes actores do jogo desportivo, não relega para segundo plano a amizade e a sã convivência. O árbitro deve proporcionar um uma comunicação aberta entre os diferentes públicos, jogadores e treinadores, aumentando as relações construtivas no decorrer do jogo.
- Por que motivos acha que o pólo aquático português se encontra na situação actual? E o que acha que deve ser feito para sair dela?
Não vale a pena tentar arranjar um culpado, vale sim a pena tentar encontrar a solução. E a solução passa por existir mais diálogo entre os diferentes actores envolvidos no pólo português, treinadores, jogadores, dirigentes e árbitros. Tem de existir vontade de todos para alterar o estado actual de desenvolvimento da modalidade, passando por uma maior aposta no desenvolvimento de base e na criação de centros de treino regionais, estruturados e coordenados pela federação.
- Quais as suas expectativas para o pólo aquático português, a nível internacional, como árbitro e como apoiante?
Lamentavelmente a minha carreira internacional foi abruptamente interrompida, por posições que, enquanto dirigente da Associação de Natação de Lisboa, foram confundidas com a arbitragem. Ao longo de 24 de actividade ligado à arbitragem sempre, cumpri e representei Portugal e a Federação Portuguesa de natação com elevado sentido de responsabilidade, onde nada me pode ser apontado e assim continuarei, desde que me seja permitido. Aqui na realidade as funções de dirigente e árbitro podem ser confundidas, contudo os regulamentos em vigor o permitem, não existindo qualquer incompatibilidade nas funções. É certo que não podemos dissociar a pessoas dos cargos que ocupam, mas se o regulamento o permite, então teremos de ter a inteligência suficiente para o fazer. O futuro a Deus pertence, aguardo na expectativa o meu regresso à carreira internacional, para oportunamente tomar uma decisão quanto à continuidade na arbitragem da modalidade.
- O que acha que tem que ser feito, a longo prazo, para que o pólo aquático português se torne uma potência?
Não é fácil enquanto existir uma rivalidade entre as diferentes modalidades da natação. Penso que a modalidade só tinha a ganhar se a mentalidade dos diversos intervenientes no fenómeno desportivo se alterasse de modo a permitir uma interacção entre as diferentes modalidades, utilizando as sinergias disponíveis. São muitos os exemplos por essa Europa, de sucesso na modalidade, basta para isso fazer por exemplo o que foi feito aqui ao lado, apostar na formação nas camadas mais jovens. Parar para pensar, elaborar um projecto a longo prazo baseado na formação e em condições de trabalho que permitissem que a modalidade se implementasse de uma forma sustentada com objectivos claros e precisos de desenvolvimento.
- Pode deixar uma mensagem para a comunidade do pólo aquático português?
Esta é talvez a pergunta mais difícil de responder, mas penso que nesta altura a mensagem seria de esperança no futuro da modalidade.
foto: Rita Taborda FPN
1 comentários:
http://www.ForumPoloPortugal.pt.vu
Agora a comunidade do Polo Aquatico em Portugal ja tem um espaço para debater os temas polémicos sobre a modalidade e ao mesmo tempo fazer evolui-la e criar mais um ponto de comunicação que este desporto tanto precisa.
Visitem o forum e registem-se:)
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